"Pendurada a espada, os velhos marechais deveriam recolher-se a particulares limbos de glória, cercados da ternura de suas famílias e do silêncio de seus concidadãos. Pendurada a espada, os velhos marechais deveriam cristalizar-se como estátuas dignas, merecedoras do respeito dos que por elas passam, mas sem perturbar o fluxo de vida que lhes corre nos pés. Ao fim de uma vida árida e dura, o silêncio é o que lhes convém. E à nossa paciência também".
Este é o final da crônica de Marcio Moreira Alves publicada no Correio da Manhã de 7 de maio de 1964, em cima do golpe daquele ano. Marcito comentava uma entrevista do marechal Odílio Denys, um dos esteios do poder militar que se instalava no país. Em dezembro de 1968, como deputado federal, faria o discurso que serviria de pretexto para o AI-5.
Já não falava diretamente aos marechais, mas aos cadetes de maneira geral, relembrando de certa forma a greve das mulheres de Atenas que se negavam aos covardes da ocasião.
Quando seu primo, Afonso Arinos, telefonou-me para dar a notícia de sua morte, eu já perdera o prazo de mudar minha crônica de domingo. Gostaria de escrever mais e melhor sobre a amizade que nos uniu, nas redações, nas celas da PE, no dia a dia de uma convivência em que conheci um dos homens mais puros e possuídos no seu amor à justiça.
O golpe de 64 contou com o apoio da sociedade e da mídia. Marcito foi a brilhante exceção que, após uma tarefa profissional em Recife, escreveu a série mais tarde publicada em livro: Torturas e Torturados.
Foi um divisor de águas. A partir das denúncias de Marcito, ninguém teria o direito de ignorar o que se passava e que aumentou com o tempo e o modo.
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