Rio de Janeiro Deu-se que, folheando uma revista estrangeira, tomei conhecimento de que em Campione, na Itália, os cobras dos cobras em matéria de astros estiveram reunidos num convescote científico e moral. Li as conclusões a que chegaram os doutos e cito alguns deles: o ex-astrólogo de Fellini, o oráculo da nobreza inglesa, a ex-modelo da Chanel Elisabeth Tessier Du Cros, a maga famosa na França, por aí afora. Bem verdade que senti falta de Paulo Coelho nessa seleção de sábios esotéricos, mas nem tudo é perfeito neste mundo regido por forças além da nossa vã filosofia.
Fiquei informado do que precisava. Há alguns anos que sinto (e sofro) a onda de violência que por aí campeia. A única certeza que nutria a respeito era a da falta de exclusividade pessoal nesse sofrimento. Outro dia, fazendo um artigo sobre o problema, rolei sapiência de almanaque citando Ferracuti, Adam Smith, São Paulo, Ésquilo, o diabo.
Culpei a má distribuição da renda nacional, a escassez de proteínas, a insuficiência do mercado de trabalho, a explosão demográfica, a má qualidade de vida nas cidades, a falência do sistema presidiário, os êxodos rurais, não deixei pedra sobre pedra.
Como sempre acontece quando ficamos razoavelmente satisfeitos com o nosso trabalho, eu estava mal informado. A culpa pela violência, em nível de governos ou de indivíduos, é a desastrosa conjugação de Marte sobre Escorpião. Taí: a verdade é mais simples que a fantasia.
No último dia da República, houve no Rio cinco assaltos em residências, todos com morte. No mesmo dia, numa rua movimentada de Ipanema, eixo da badalação do bairro, um pai morreu tomando sorvete com os filhos. Levou um tiro na cara. Nem assalto era, apenas uma demonstração da força de Marte sobre Escorpião.