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Não se trata de faixa etária, mas de ouvido mesmo. Abrindo-se as exceções de praxe entre os admiradores de Michael Jackson, o gostar ou não gostar de suas músicas é uma questão de hábito – fica difícil classificá-lo como músico. Sobram-lhe as letras, algumas muito boas, e, sobretudo, a sua dança – e desde logo afirmo e reafirmo que ele é superior a Fred Astaire, até então o maior bailarino do audiovisual de nossa era.

Astaire era um romântico, quase sempre apoiado em partners estupendas, como Ginger Rogers, Cid Charisse e outras do mesmo naipe e das mesmas pernas. Era elegante e tinha humor. Gene Kelly era um coreógrafo de talento, musculoso demais para compor um bailarino nobre. Michael Jackson pertence à categoria dos "possuídos" e houve quem um dia chamou Nijinski de "possuído". Inventou uma expressão corporal que transcende a expressão musical. Muitas vezes sobra-lhe apenas a silhueta, como em Chaplin – outro gênio da expressão corporal.

O detalhe da bengalinha, dos farrapos e do chapéu de coco, em Chaplin, tem equivalentes no mocassim e nas meias brancas de Michael Jackson – um detalhe que poderia parecer cafona, mas nele é marca de uma personalidade fora de série.

Quanto à música, repito que é uma questão de ouvido. Há gente incapaz de distinguir um Vivaldi de um Bach, um Debussy de um Ravel, um Verdi de um Puccini – embora sejam completamente distintos e, em alguns casos, antagônicos.

No meu caso, ainda adolescente, tive dificuldade para distinguir um canto gregoriano do quarto modo de um outro de modo diferente. Depois de Elvis Presley, com sua bela voz abaritonada, e dos Beatles, com seu assombroso repertório, raramente percebo as maravilhas que o rock e a música pop me oferecem à saciedade.

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