Muros ou pontes

Temor me causa a construção de um muro separando a favela no Rio de Janeiro e a classe média. Temor não só pelo muro físico mas também pela representação simbólica que causa a assinatura de um fracasso daquela cidade representado num muro. Assinatura grafada através de um muro, com firma reconhecida, pois tem exposição pública assim como a assinatura reconhecida em cartório tem.

Interessante é irmos aos antecedentes e analisar o que causou tal situação, procurar a cadeia causal da formação das favelas: o que as originou? A falta de oportunidade e ilusão de uma grande parte das pessoas que vivem nelas e vieram do interior por falta de oportunidade ou na doce ilusão amarga que a cidade grande traz.

Ao invés de construir muros, deveríamos construir pontes de oportunidade no campo. Construir muros é construir murmúrios de segregação, na rima da exclusão. Devemos trocar a falta de oportunidade pelo investimento no pequeno produtor do campo, para possibilitar a ele que tenha oportunidade de estudos e trabalho. E oportunidades de aperfeiçoamento em escolas e universidades voltadas ao homem do interior, das pequenas cidades, que quer crescer na sua terra com cursos agrícolas, técnicos, florestais, de manutenção de florestas e preservação ambiental, bem como manejo sustentável da natureza.

Não adianta desalojar famílias construindo imensas hidrelétricas e causando um terrível dano ambiental e social, deixando pessoas ao léu. É preciso ter desenvolvimento renovável e sustentável. É preciso fixar o homem no campo com escolas e tecnologia sustentável renovável como solar, sisterna de captação de água da chuva, biodigestor, universidades e faculdades perto de núcleos de pequenas cidades.

É preciso passar na mídia a noção real de que nas cidades o custo de vida é maior e a qualidade de vida é pior, onde vivemos em pequenos cubículos chamados apartamentos.

Estevão Gutierrez Brandão Pontes é advogado em Curitiba.estevaopontes@yahoo.com.br