Fernando Pamplona tinha razão ao pedir uma cota de negros, não para as universidades, mas para as escolas de samba do Rio de Janeiro. Nos últimos carnavais, mais da metade dos integrantes eram brancos, alguns deles bronzeados pelo sol deste verão acachapante, outros artificialmente, como a maioria dos destaques.

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Pouco a pouco, a fixação do carnaval num único eixo (o desfile em si), transformou a festa popular, que nasceu espontânea e livre, num episódio da mídia, sujeito às leis do mercado, aos patrocínios. Neste particular, igualando-se às campanhas eleitorais e ao lobby dos produtores de shows, peças e filmes para promover seus espetáculos.

Ano passado, encontrei um carnavalesco e perguntei sobre seu trabalho, o que estava bolando para o desfile de 2011. Ele tinha mil ideias (os carnavalescos são pródigos em ideias), mas não se fixara em nenhuma porque nada combinara com os patrocinadores.

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Somente mais tarde, definidos os parâmetros de cada escola, é que os cenógrafos poderiam começar a trabalhar. É aquela piada de Garrincha sobre os russos, mas às avessas. Primeiro é preciso combinar com os russos, os adversários. No terreno deixado livre, aí é que o pessoal da base, cenógrafos, músicos, destaques etc. poderiam começar o trabalho.

A cota de negros reclamada por Pamplona é consequência desta mercantilização do desfile carioca. Não sou entendido no assunto, acho que em outras praças, sobretudo às do Norte e Nordeste, a festa mais popular do Brasil não sofre desse mal. Mas no Rio de Janeiro, com o apelo cada vez maior do mercado, haverá necessidade de uma cota mínima de negros – aos quais devemos tanto em nossa formação econômica, cultural e artística.