Divulgada pela emissora onde trabalhava (foi demitido pelas evidências), a versão do repórter abre a janela para uma discussão que tende a ficar na lateral desse caso, ofuscada pelas notícias de investigações envolvendo policiais e máfias que já mataram mais de 50 numa guerra caça-níquel.

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Na tal explicação, o fim justificaria o meio: travestir-se de criminoso para produzir material "jornalístico". Não justifica. Mais: rompe com limites legais e éticos que devem nortear a profissão.

Mas, mesmo que não fosse assim e o repórter estivesse realmente atuando como um "agente secreto" a serviço da informação, teria de, ao menos, ser lembrado do que aconteceu com Tim Lopes. O assunto é delicado. Os dois casos são extremos – opostos até –, mas valem um paralelo, nem que seja para alertar estudantes e jovens repórteres.

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De origem humilde, cria do morro da Mangueira, repórter que muitas vezes encarnava o personagem de suas matérias, Tim foi assassinado a golpes de sabre, em 2002, depois de tentar se passar por freqüentador de baile funk em favela. Pretendia denunciar a exploração sexual de menores pelo tráfico.

Seu objetivo, como se vê, era nobre. Mesmo assim, o meio não o justificava. Tim "invadiu" um território sem lei e sem segurança. Tentou se escudar na malandragem de sua origem. Estranho no baile ao ar livre, acabou descoberto – denunciado pelos cabelos brancos e pela barriga – por criminosos que havia flagrado em outra reportagem. Virou símbolo e marco de um tempo em que jornalistas devem redobrar cuidados para não virar notícia. Elas são sempre ruins.