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Com o advento da internet, ele pensou que ficaria livre de uma das coisas que mais o chateavam: a leitura dos jornais. Por motivos profissionais, era obrigado a ler diariamente pelo menos quatro deles, além de revistas semanais e mensais. Estava cheio.

No início, tudo foi maravilha. Abria o computador e acessava o que mais lhe interessava naquele dia e naquela circunstância. Aos poucos, antes de acessar o que lhe interessava, era acessado por um número cada vez maior de mensagens, na sua maioria de estranhos ou de firmas e instituições que comunicavam um universo de informações que nada tinham a ver com ele.

Em certa época, ficou preso num cubículo e tinha por única distração o exemplar de um jornal ali deixado por inquilino anterior. Leu tudo, desde a previsão do tempo para aquele dia do passado, a votação de um projeto na Câmara sobre o salário das merendeiras escolares do Piauí, até a cotação do algodão, tipo B293, na bolsa de Melbourne.

Jurou ódio aos jornais mas precisava deles. Exultou quando soube que a internet era maior e melhor do que qualquer coisa impressa em papel. Quando criança, gostava dos jornais porque, depois que o pai os lia, ele juntava os exemplares e uma vez por semana os vendia no açougue do Seu Couto. Ganhava um tostão por quilo, preço de um picolé na Sorveteria Pingüim, a mais sortida de Vila Isabel. A Saúde Pública proibiu que a carne fosse embrulhada em jornais –ele perdeu a sua primeira fonte de renda.

Foi em frente. Hoje, quando abre o computador, recebe informações mais fartas e variadas, não apenas do algodão em Melbourne, mas das homenagens que um vereador de Nilópolis fez por merecer de seus pares por motivo do nascimento de sua primeira neta.

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