Rio de Janeiro Alguns leitores reclamam do cronista que usa o nobre espaço de um jornal para textos que nada têm a ver com a realidade e com o momento. Falando francamente, eu também me estranho e por mais que me estranhe, fico na minha.
Não tenho saco para acompanhar com argúcia e interesse pessoal os fatos e fastos da política nacional, da nossa economia e da situação internacional. De vez em quando abordo um tema relativo a esses departamentos, que afinal, de certa forma fazem parte do meu cotidiano.
O atentado ao WTC me espantou, a invasão do Iraque me irritou, o Brasil na Copa do Mundo me decepcionou. Foram acontecimentos abordados à exaustão por todos os jornais e jornalistas, cada qual com sua visão particular, inclusive a minha.
Para dar exemplos: não tenho qualquer interesse em saber quem vai ser ministro disso ou daquilo, não torço por nenhum candidato e nenhum partido.
Sou minimamente patriota para admitir que torço compulsoriamente pelo Brasil, pela paz universal, mas de tanto quebrar a cara, não o faço com arroubo e persistência.
Ontem pela manhã vi um barco solitário na Lagoa. Os remos encharcados refletiam o sol da manhã. Um espetáculo bonito em sua banalidade, logo me deu vontade de escrever sobre barcos de remos encharcados de água e de sol.
Sei que não é isso que os leitores esperam de um cronista numa página de opinião, preferem um comentário sobre o senador Suassuna, que escapou de uma repreensão verbal no Senado. Ou uma análise original e indignada da crise do tráfego aéreo, agora suspeito de sabotagens.
Ou uma revelação sobre as doações de empresas ligadas ao governo para a campanha eleitoral de Lula. Assumo a culpa de preferir o barco e o sol.
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