Toda vez que me olho no espelho tenho vontade de perguntar a não sei quem: "Afinal, de onde vim, do barro ou do macaco?" Uma alternativa pouco agradável, mas veraz. Vim do barro, tal como o Gênesis me informa? Ou vim do macaco, que Darwin descobriu entre os meus principais ascendentes?
Gostaria de ter uma terceira via para me explicar, mas, em vez de uma explicação, encontraria mais uma complicação. Fico com as duas e, se não fico bem, fico em parte com a ciência e em parte com a religião.
Acredito que outras pessoas tenham pensamentos iguais ou parecidos: pesquisar nossa origem é salutar, embora não nos leve a lugar nenhum. É até uma forma de monotonia. E, ao falar em monotonia, lembro Machado de Assis: "Cá fico eu que prefiro a monotonia à cova mania de velho".
Os entendidos atribuem a esta mania, comum a velhos e moços, toda a base da filosofia e da ciência em geral. Quem sou, onde estou, de onde vim, para onde vou? Não sei se foi o poeta Luiz Edmundo que fez as mesmas indagações num soneto que sabia de cor e do qual só recordo o final.
"Quem sou? Funcionário honesto da nação. De onde vim? De casa. Onde estou? No bonde. Para onde vou? Para a repartição."
Diremos que são soluções poéticas, mas nem tanto. Se perguntasse menos, o homem seria, se não mais feliz, mais tranquilo. A resposta é sempre um compromisso, às vezes um dever.
A lenda diz que o apóstolo conseguira fugir de Roma, mas encontrou Jesus na estrada. Perguntou-lhe: "Onde vais, senhor?" (o famoso "Quo vadis"). Jesus respondeu que ia a Roma para ser crucificado outra vez. O apóstolo compreendeu e voltou atrás, aceitando o martírio. Se nada perguntasse, teria vivido um pouco mais.
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