Rio de Janeiro – "Um cavalo! Um cavalo! Meu reino por um cavalo!". Lembro o personagem de Shakespeare porque, segundo o Evo Morales, a Bolívia trocou parte de seu território por um cavalo. Mais uma vez, o vencedor escreveu a história. Para os brasileiros, o Acre foi uma jogada diplomática do barão do Rio Branco, que dá nome à capital daquele estado. Para os bolivianos, tudo se resumiu a um cavalo – fico pensando no gênio boliviano que aceitou a troca.

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Sabemos que a Bolívia é pobre, mas não ignorante. Mesmo assim, certamente há bolivianos ignorantes, como em qualquer povo, inclusive no Brasil. Lembro o que me contou amigo meu que foi promotor numa cidade onde bolivianos trabalham em fazendas perto da fronteira. Havia o barracão que aceitava vales em troca de comida. No fim do mês, na hora de pagar, o patrão somava os vales para descontar do salário deles.

A soma era assim: "25 mais 42, mais 19, mais 11, mais 15, dá 22. E vão dois". O patrão parava, olhava o operário e dizia: "E vão dois. Mas, como você é muito bom, em vez de vão dois, vou botar vão nove". Somando os vales do operário, o salário, que era pouco, ficava miserável.

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Trabalhadores brasileiros também são empulhados da mesma forma ou de forma equivalente. Não é exclusividade da Bolívia ter ignorantes que aceitam um cavalo em troca de parte de seu território. Muitos bolivianos, a começar por seu presidente, acreditam na inacreditável troca, o que aumenta a convicção de que o Brasil, quase pobretão como a Bolívia, na fatia de poder sobre um vizinho mais pobre, exerce a lei do cão, usando um cavalo ou a Petrobrás.

Nisso tudo, o que se pergunta é o que Lula foi fazer em Foz do Iguaçu e em Viena. Não pode fugir da alternativa: fez papel de bobo numa ou noutra reunião. E pior: bancou o bufão satisfeito, ao contrário daquele bobo do rei Lear (outra vez Shakespeare), que era um bufão triste.