Rio de Janeiro – "Não é a fome, não é o desejo – é a sede do poder que é o demônio do homem. Dê-se-lhes tudo: saúde, alimentos, moradia, distrações – nem por isso se sentirão menos tristes nem menos infelizes; porque o demônio está de alcatéia, o demônio os espera, espera e quer ser satisfeito".

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A frase é de Nietzsche ("O Viajor e a sua Sombra"), ele próprio acrescentou ao seu texto os versos de Lutero com o mesmo sentido: "Se nos tiram o corpo e haveres, honra, mulher e filhos, bom proveito lhes faça – não nos hão de tirar o poder".

O poder de que falam Nietzsche e Lutero tem escalas: o poder do pai, do Estado, o poder do chefe e do subchefe, o poder, enfim, que explica todas as formas do mal que vulgarmente é centralizado no demônio – o demônio do homem, que o leva a comer o fruto da árvore do Bem e do Mal para ser poderoso igual a Ele, ao Deus que o criou.

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É na vida pública, vale dizer, na vida política, que o demônio do poder mais se manifesta. A conquista do poder e sua sustentação são os desafios maiores do poder, cada qual no seu quintal específico, nos executivos, nos legislativos e nos judiciários. O maior explora o menor, o menor explora o mínimo e o mínimo busca outro mínimo a explorar.

Até mesmo na vida particular de cada um, o poder é o objetivo final de cada ação, por mais prosaica que seja. O poder do marido sobre a mulher, do guarda sobre o motorista, do motorista sobre o transeunte e, evidentemente, de um presidente de empresa ou da República sobre seus subordinados e sobre a nação.

O demônio do poder está no embrião de todo o processo político, das alianças e das rupturas. Aparentemente, há limites legais para o exercício do poder, mas, no subsolo das paixões, tudo é permitido, desde que, guardadas as conveniências de ocasião, o demônio que está a rugir em volta faça mais um súdito.