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Ainda a propósito da excomunhão dos médicos que praticaram aborto legal numa menina de 9 anos, estuprada pelo padrasto, uma das besteiras mais divulgadas por comentaristas de diversos feitios e tamanhos é a de que o Estado é leigo. Sim, é leigo desde a Proclamação da República, mas se comprometeu, em todas as Constituições republicanas, a respeitar a liberdade de crença e de culto.

Como o candomblé, as muitas seitas espíritas e os diversos ramos do protestantismo, incluindo a proliferação dos ritos evangélicos, o catolicismo romano tem uma visão do homem e da sociedade apoiada nos textos bíblicos, na literatura patrística e no próprio (e acidentado) percurso na história do ocidente ao longo de 2.000 anos

Uma excomunhão, como já lembrei aqui, na crônica ‘Comunhão e excomunhão’, só diz respeito ao católico romano praticante, que aceita livremente o núcleo de uma doutrina que frequentemente discorda e até mesmo agride o estágio da ciência e da moral de determinadas épocas.

Entre outras asneiras, li que o arcebispo de Recife condenou ao inferno a vítima do estupro. Nem o papa tem poder de condenar quem quer que seja ao inferno. É uma atribuição de Deus que nem sempre acompanha o juízo de nenhum dos cultos existentes em seu nome.

Como agnóstico militante, mas formado em um contexto cristão e católico, compreendo – mas não chego a justificar – o ato daquele arcebispo.

Fazendo reportagem sobre o candomblé da Bahia, assessorado por Jorge Amado, fui impedido de entrar num recinto dedicado a Oxalá. Teria de me submeter a ritos complicados, a descargas que me tornassem digno de penetrar em sítio tão sagrado. Não me senti prejudicado no meu direito de ir e vir que o Estado leigo me garante.

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