Rio de Janeiro Apesar do naufrágio do Partido dos Trabalhadores, Lula dispara nas pesquisas e, à falta de concorrentes categorizados eleitoralmente, é quase certa a sua reeleição.
O problema agora é saber com quem ele governará. Normalmente, seria com o seu partido de origem e seus naturais aliados. Mas o PT está de tal forma bichado que ele terá de apelar para uma estrutura partidária que, entre mortos e feridos, é ainda a maior do país: o PMDB.
Nada contra o partido, versão fisiológica do combativo MDB dos tempos da ditadura militar. Um PMDB que se recusa a ter candidato próprio para melhor se arrumar no tabuleiro nacional, lembrando aquela frase de Pinheiro Machado, que desdenhava a Presidência da República, preferindo continuar soba dos gaúchos por quase 30 anos e dizendo: "Na política, o prato principal do banquete é na província. Cargo federal é sobremesa e cafezinho". Foi assim que despachou Getúlio Vargas para o Ministério da Fazenda no governo de Washington Luiz. Guardou para si o poder estadual e livrou-se do rival, mandando-o para esfera aparentemente superior.
Daí que o futuro governo Lula não terá outra solução senão se aliar em unha e carne com o partido que detém o maior número de colégios eleitorais. Do ponto de vista da votação, será uma goleada: preferência compacta na figura física de Lula e na figura jurídica do maior partido nacional.
Na parte administrativa, será a negação de tudo o que Lula representou até a sua eleição em 2002. Diz ele que seu lema será o mesmo: "Paz e amor". Com o indispensável adendo: "e todas as vantagens a que teremos a direito".
Fim melancólico para o ex-metalúrgico e líder sindical. A cada dia, é obrigado a engolir tudo o que pensou e disse no passado.