Rio de Janeiro "Que povo unido o quê! Que história é essa? Vocês estão presos!". Em uma entrevista que está sendo anunciada pelo canal da TV paga Globonews, o general da reserva Newton Cruz relembra o tempo em que andava a cavalo pelas ruas de Brasília reprimindo aqueles que pretendiam, há 26 anos, votar para presidente.
Hoje soa engraçado assistir ao general de pijama ralhar contra "os comunistas" que ele orgulhoso conta que mandou prender. A história o mandou para o pé da página.
A brutalidade contra a democracia brasileira existiu, é inapagável, seus agentes envelheceram impunes, mas ao menos ridicularizados. Aquela história de rir por último e melhor parece verdadeira.
"Que história é essa de povo unido?", perguntava-se o general. Naquele momento, parecia haver uma unanimidade nacional em favor do fim da ditadura militar e da volta das eleições livres e diretas.
Mais fortes são os poderes do povo, berrava o personagem glauberiano. Todo o poder emana do povo e em seu nome deverá ser exercido, relembrava o advogado Sobral Pinto. O povo não é bobo, abaixo a Rede Globo!, gritava-se nas praças a plenos pulmões. O povo estava na moda, santificado pelo martírio da ditadura e da carestia.
Hoje, quando se fala em povo, é como gíria para grupamento social específico: o povo da moda, o povo da noite, o povo da rave. O povo foi esquartejado. O povo é octópode como o polvo. Não pode estar unido, nem dele emana poder algum. Nem quer mais botar a Rede Globo abaixo, porque adora o povo do Big Brother, cujo vencedor atacou o povo gay, mas foi defendido pelo povo sincerão, que não tem trava na língua não. Houve mais de cem milhões de votos no BBB, diz a Globo. Dourado recebeu mais votos do que Lula. O general de pijama deve estar rindo com seus botões.
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