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Paramentado de arminho e mitra, o bispo subiu no búfalo e gritou, brandindo o báculo: "Cobri-vos de cinza e fazei penitência, que o Grande Pecador cumpriu seus dias de ignomínia sobre a Face da Terra e o Justo descerá dos céus para chover terror e castigo!"

O búfalo corcoveava ouvindo essas coisas e tanto corcoveou que jogou o bispo devidamente paramentado ao chão. Mas o báculo de ouro, ao tocar o solo, transformou-se num guarda-chuva colorido, e uma japonesa de saiote e pernas de fora equilibrava-se com ele, em cima de um arame farpado.

Lá em baixo – que a plateia era imensa e opaca – havia emoção e silêncio, pois o grão-vizir subia pelo mastro a fim de cortar o arame. Eis quando pelo mastro subiu o búfalo e com feroz cabeçada atirou o grão-vizir na Geena do ranger de dentes.

O povo aplaudiu a nobre ação do búfalo, mas o búfalo subiu pelo arame e, equilibrando-se numa só de suas cinco patas, devorou a japonesa e seu guarda-chuva aos olhos atônitos da multidão que bradava:

– "Não! Não! Só com as Grandes Reformas a pátria será salva!"

Então o búfalo resolveu fazer sua Grande Reforma ali mesmo, com os intestinos ainda cheios da japonesa e de seu guarda-chuva. Prometeu votar em Dilma Rousseff.

O empresário torceu as barbas e apitou novamente: foi quando o céu se rasgou em duas partes e de uma delas saiu um almirante tocando cuíca. E da outra parte surgiram cinco dúzias de melancias cortadas em fatias.

Nisso o búfalo, sustentando-se em suas cinco pernas, comeu o empresário, o almirante e o bispo paramentado. Depois disto, o báculo de ouro cresceu até se transformar numa forca.

E o povo enforcou o búfalo. Mas ouviu-se uma voz sinistra que perguntou:

– "E quem enforcará o povo?"

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