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Rio de Janeiro – Já foi dito diversas vezes que o brasileiro, que não é mais cordial como os sociólogos pensavam, é capaz de inventar o círculo quadrado ou dar nó em pingo d’água. A inventiva nacional é farta e abundante. E acho que está em processo uma nova proeza, inédita na história universal: a ditadura democrática.

Explico: a menos que ocorra um fato novo e grave (os escândalos de seu governo só impressionaram a mídia e a classe média que é bitolada pela mídia), o grosso do eleitorado nem está aí para o que houve. Votará em Lula, que tem a maior exposição e a menor contestação popular. Não apareceu no cenário político (e muito menos no cenário eleitoral) um adversário de peso que o enfrente nas urnas e na preferência do povo.

Se é certa a sua reeleição, é certa também a sua incompetência em governar, em administrar não apenas a máquina do Estado, mas as correntes heterogêneas que formam a sociedade. É um demagogo vulgar, e só não chega a ser um tirano porque lhe faltam condições para isso: no fundo, é um bom sujeito.

Mas seu novo governo não terá estrutura nenhuma para levar o país a qualquer lugar, a não ser ao crescimento vegetativo de seu primeiro mandato. Ele não terá equipe nem mesmo um esquema de forças sociais que o apóiem. Será eleito e governará com os náufragos de diferentes partidos (inclusive do seu partido), que embarcarão em sua canoa – a única que parece ainda flutuar no tenebroso mar da política nacional.

Um ditador eleito democraticamente e aceitando críticas, esculhambações até do Ronaldo, e contestações, mas confiante de que o povão o aprova e o admira pelo que é e pelo que não é. Um ditador que achou o mapa da mina: torça pelo Corinthians, beba sua pinga, fale mal dos ricos e deixe o país se danar.

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