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No Brasil, o presidente manda o povo consumir para aquecer o comércio e a indústria. As autoridades financeiras não se entendem sobre o tamanho e a consequência da crise

Desconfio que já contei esta história, aqui ou em outro canto qualquer. Ano da Graça de 1989, queda do muro de Berlim. Operários de uma fábrica entram em greve. Após muitas manifestações de rua, o dono do negócio decide receber uma comissão do sindicato.

Trata a todos cordialmente, serve café e água gelada, depois pergunta: "Vocês não sabem que o muro caiu? Esse negócio de greve já era, os tempos são outros, vamos trabalhar pelo bem de todos nós e do Brasil".

O mesmo começa a acontecer com a crise que o mundo atravessa. Já ouvi dizer que o buraco nos bancos norte-americanos chega a trilhões de dólares. Honestamente, nem sei o que isso significa, não faço a menor ideia do que isso representa. Um operário brasileiro tampouco saberá o que seja um trilhão de qualquer coisa, sobretudo de dólares.

Mas a senha está lançada e aceita internacionalmente. Invocando a crise, os governos cortam investimentos e verbas, as empresas enxugam a folha de pagamento, os bancos aumentam as taxas, o crédito é diminuído e a legião dos devedores cresce a cada dia. É a crise.

Aqui no Brasil, o presidente manda o povo consumir para aquecer o comércio e a indústria. As autoridades financeiras não se entendem sobre o tamanho e a consequência da crise. Tudo bem, quer dizer, tudo mal. Nas altas esferas, trata-se de um tema acadêmico tão controverso que alguns chegam a negar que exista realmente uma crise.

Na base da pirâmide, o homem comum, que nem imagina o que seja um trilhão de dólares, se já entendia pouco do sistema financeiro, passa a entender cada vez menos. Mesmo assim, adivinha que qualquer reivindicação salarial será cortada pela raiz. Tal como a queda do muro de Berlim, a crise no sistema capitalista aviltará mais ainda o mercado do trabalho.

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