Rio de Janeiro Quando a classe política, como um todo, chega a um consenso operacional, a experiência ensina que nada será feito para concretizar o circunstancial consenso. Ele servirá apenas para declarações bem intencionadas e para a formação da seguinte estratégia: se todos estamos de acordo neste assunto, por que não deixá-lo para mais tarde?
A necessidade de uma reforma política é um consenso nascido nos últimos tempos. Só perde em antigüidade para o consenso da reforma agrária. Todos estão de acordo que o mal da nossa vida pública são os vícios da operação política em si, que permite a existência de dezenas de partidos que se amontoam na Justiça Eleitoral em época de eleição criando as alianças mais berrantes e inacreditáveis.
Justamente porque todos estão de acordo sobre a necessidade da mudança das regras político-partidárias, o assunto nunca entra na agenda formal dos partidos e do Congresso. O raciocínio dos interessados é o seguinte: se todos estamos de acordo, não há necessidade de se fazer a reforma, deixamos tudo como está, para termos pelo menos um assunto sobre o qual estamos todos do mesmo lado.
Pode-se deduzir daí que a classe política é estruturalmente cínica e hipócrita. Ela sabe que a reforma política é o meio mais eficiente para acabar com a corrupção, contra a qual todos se erguem indignados e moralistas. Mas como cobrir os custos das campanhas sem as fartas doações dos lobbies que se formam a cada eleição? Neste particular não há inocentes nem vestais.
Aos poucos estão vindo à tona as doações, os benfeitores e os beneficiários. Não escapa ninguém, as diferenças são de escala, uns mais outros menos. E é aí justamente que se aninha e se choca o ovo da serpente da corrupção.
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