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Rio de Janeiro – Um ge­­neral de Napoleão, Pierre Cambronne, no final da tarde de Wa­­terloo, vendo o desastre das tropas francesas, desceu do seu cavalo e disse uma palavra que era então considerada palavrão: "Merde". Definiu perfeitamente a situação, e não havia no vocabulário um termo que expressasse a sua raiva pela derrota.

Durante algum tempo, quando as cultas gentes queriam se referir à mesmíssima coisa, evitavam a palavra considerada chula e se referiam ao general francês. Dava no mesmo, os entendidos entendiam.

O tempo passou e, pouco a pouco, a palavra foi sendo admitida na literatura, no teatro e no cinema. E, sobretudo, no linguajar do homem co­­mum, que, pelo menos uma vez ao dia, pronuncia a palavra para expressar a mesma revolta diante de um fato cotidiano.

Vai daí, muita gente reclamou de o presidente Lula ter usado a palavra para se referir aos seus propósitos de dar ao povo aquilo que os técnicos chamam de "saneamento básico". Todos sabemos que Lula é um presidente meio fora do esquadro. Suas origens são populares, e ele sabe tirar proveito disso, mantendo com o eleitorado um elo indestrutível, que passa pela língua presa, a cara afogueada e o vocabulário que, tal como o saneamento, é também básico.

Em outros tempos, haveria até pedido de impeachment para o presidente. Nos tempos de JK, uma revista publicou uma foto do presidente no ba­­nheiro, se barbeando. Aparecia, ao fundo, o vaso sanitário. A oposição, liderada pela UDN, articulou um pedido de impeachment. Os tempos mudaram.

Pessoalmente, nada tenho contra usar a palavra que todos usam sem escândalo, reconhecendo que, em certas ocasiões, expressa a mesma irritação do general francês diante da confusão e do descalabro de uma situação difícil e vergonhosa.

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