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Volto hoje ao assunto de minha última crônica neste espaço: a interferência do poder financeiro em seus diversos escalões, desde as grandes empresas multinacionais até o botequim da esquina que pretende botar mesas e cadeiras na calçada e precisa de uma licença das autoridades municipais: todos têm interesse em colaborar nas campanhas eleitorais, não por afinidade com o programa partidário das legendas nem com as idéias do candidato a vereador, mas simplesmente para ter o político ou o governante como refém de seus interesses.

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A democracia representativa é a forma de gerir a sociedade que melhor se aproximou do ponto ótimo de operação. Contudo, ela se expressa através da vontade da maioria e essa expressão é aferida pelo voto. Acontece que voto custa caro, não adianta a justiça eleitoral, daqui e de outros países, deitar regras tentando disciplinar as doações e contribuições. Há sempre uma caixa dois e uma caixa dois da caixa dois, formando uma cadeia infernal em que as responsabilidades são diluídas. Volta e meia, uma bobeada qualquer no sistema e surge um mensalão ou escândalo equivalente. Vem então a mídia na base do "Mata! Esfola!" que coloca determinado partido ou político na berlinda até que venham novos mensalões e escândalos.

Como obscuro observador dos fatos políticos, limito-me a constatar o óbvio: para obter o voto, que dá legitimidade à democracia representativa, não foi ainda inventada outra fórmula para auferir a "representatividade", a não ser o voto que custa caro. Este é pecado original, o nó da questão que desafia sociólogos, filósofos, cientistas políticos et caterva que devem encontrar um instrumento mais esterilizado para operar a cirurgia da sociedade.

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