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Eu estava editando uma revista de atualidades. A redação vazia ainda, o melhor fotógrafo da equipe senta à minha frente, cabeça baixa, olhos fundos, voz arrastada: "O que vai ser de nós?".

Levei um susto. Tudo estava nos eixos, boas vendas, nenhuma crise ameaçando nossos empregos, nem o dele nem o meu, que diabo, logo de manhã, uma advertência daquelas. "Vai ser o que de nós?", perguntei, embora não alarmado.

A resposta veio sofrida: "Chagall morreu... O que vai ser de nós?". Bem, a coisa não era tão trágica assim. Por maior que fosse a minha admiração por Chagall, acreditava que o mundo continuaria o mesmo, principalmente para mim. Pensando bem, até que melhor para a revista. Teria assunto para a capa e para quatro nutridas páginas do número que começaria a fazer.

Pulando no tempo e no espaço. Quando Stalin morreu, em 1953, a turma do Kremlin se reuniu e decidiu não divulgar a notícia, temia uma hecatombe. O povo acreditava que, Stalin morto, o sol não nasceria no dia seguinte. O que seria do heroico homem comum que resistira a Napoleão e a Hitler, mas não suportaria viver sem o Guia Genial dos Povos, o "pápuska" de todos. O mais sábio era esperar pelo dia seguinte, ver se o sol nasceria mesmo. Seguro morreu de velho.

Eu ia lembrando isso ao desconsolado repórter, a humanidade ficaria mais pobre sem o gênio de Chagall, mas o sol já havia nascido lá para as bandas de Niterói, prosaicamente, como fazia todos os dias. Não havia motivo para alarme.

É bem verdade que certas coisas que acontecem no mundo volta e meia me inquietam. Bem ou mal, íamos levando a vida, até que o Obama descobriu que Lula é o cara. Antes, quando não sabíamos disso, tínhamos alguns problemas, mas dávamos a volta por cima. Agora, o que vai ser de nós?

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