Deputado federal desconhecido irritou a mídia ao declarar que estava se lixando para a opinião pública. No fundo, quis dizer que se lixava para a própria mídia, que segundo ele, não forma nem informa a dita opinião pública.

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A reação dos veículos de comunicação foi, como se devia esperar, imediata e truculenta. A declaração do deputado foi considerada um insulto – e, na realidade, a intenção dele deve ter sido essa. Além das intenções, o que sobra é o conteúdo de sua afirmação. Há mesmo uma opinião pública ou apenas uma opinião do público? Não parece, mas são coisas diferentes.

A começar pela raiz da questão. Ao se falar em opinião pública, imagina-se um pensamento ou um sentimento comum sobre determinado assunto ou coisa. A opinião do público é como aquela dona da ópera de Verdi: ‘è mobile’. Além disso, o público é heterogêneo por definição e mal informado por formação.

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Até que a mídia não tem culpa nisso tudo. Ela faz o que pode. Não é perfeita nem dá conta do recado integralmente. Às vezes tenta fazer mais do que pode, às vezes se estrepa. O fato é que o público, a mídia, os governantes, os representantes do povo fazem parte de uma coisa complicada e imperfeita que é a sociedade.

É comum e banalíssimo apelar para ela, em nome da qual é cobrado um comportamento cívico e moral mais que perfeito, como se ela, a sociedade, fosse a pedra de toque, o referencial básico para o julgamento dos atos e fatos humanos. Na realidade, o único referencial existente e imutável é o próprio homem, feito do barro e destinado ao pó.

Pessimista profissional, gosto de citar um dos melhores personagens de Shakespeare, o vilão Iago: ‘men are men’. Os homens são homens.