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Rio de Janeiro – O Rio amanheceu cantando... Não, não era isso que queria escrever, e sim: "O Rio amanheceu cheio de vacas". Não entendi bem o que tantas vacas faziam na paisagem da cidade, tradicionalmente sem elas, desde que uma lei municipal proibiu estábulos nos limites urbanos da então capital da República.

O Brasil cultivava vacas, precisava delas, mas as expulsara para outras paragens, que naquele tempo eram chamadas de roças.

Menino urbano, a primeira noção que delas adquiri foram as "vacas leiteiras", caminhões que paravam nas esquinas mais importantes dos bairros, buzinavam durante cinco minutos, donas de casa corriam aflitas com panelas e bules, o leite vinha gelado, mas nem sempre fresco, a saúde pública também proibiu aquele tipo de vaca na cidade, o produto passou a ser distribuído industrialmente, como um refrigerante ou um detergente.

Lembro o estupor nacional quando, num ano qualquer do século passado, o Zé Serra, nomeado ministro, declarou que nunca tinha visto uma vaca em carne e osso. Fui dos poucos que compreenderam o atual governador paulista. Só tomei conhecimento da existência do gado vacum quando já entrado em anos. Mas até hoje a vista de um boi ou de uma vaca me dá um torpor pastoral.

Mesmo assim, há tempos, iniciei um romance que teria como título "Opinião da vaca sobre a cidade do Rio de Janeiro nos meados do século 20". Nunca terminei este trabalho e, se um dia o fizer, inverterei o título, que será "Opinião da cidade do Rio de Janeiro sobre a vaca no início do século 21".

Em Copacabana, botaram até uma vaca ao lado da estátua do poeta Drummond de Andrade, fazendeiro do ar. Se nada entendia de vaca, passei a entender menos.

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