Rio de Janeiro – Vejo, por cima dos telhados, a cruz. Aponta para o céu. Que que há lá em cima para tanta coisa apontar assim? Ignoro o que esteja acima da cruz. Sei o que está abaixo: a igreja, o altar iluminado, as velas, os convidados, as flores, o órgão. E eu. Ainda não estou lá, mas é como se lá estivesse, inarredável, desde o início dos séculos, eterno.

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Na verdade, estou esperando sempre, esperando pela noiva, pelo resto, pela vida. Esse que está indo é apenas um retardatário que vai assistir ao espetáculo, apenas isso. Pois assistamos.

"Olha o carro do seu padrinho." A mãe aponta para o Buick preto parado na esquina. "Sim, todos estão na igreja. Só falta a gente. E Glorinha, é claro." "Ela demorará muito?" "Não. Combinamos chegar quase juntos. Se tudo der certo, quando eu e a senhora chegarmos ao altar, o carro dela deverá estar encostando na porta. Tudo simétrico e perfeito, como um relógio."

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"Não zombe de seu sogro, filho. O fato de ele ter uma relojoaria na cidade não o desmerece. Você é doutor e pobre. Ele é ignorante e rico. Cada qual faz o que pode." "Pois estou fazendo o que posso. Saltemos."

"E o pé?" "Até agora, tudo vai bem. É uma grande coisa casar, mãe. Olha como tem gente. Parece um enterro."

Parado na porta, segurando uma espada, épico em seu uniforme branco, um oficial da Marinha. Custo a reconhecê-lo. O pai fizera a lista de todos os vizinhos dos últimos 25 anos. Ali está, capitão de qualquer-coisa-do-mar, o Geraldinho dos matagais, que caçava rolinhas comigo.

Era um rito. Pegávamos uma bacia e miolo de pão, ficávamos lado a lado, nos matagais. Geraldinho tinha de puxar um barbante para a bacia cair e prender as rolinhas. Nunca acertava. Eu dizia: "Amanhã tem mais".