Rio de Janeiro Há tempos só tenho lido biografias. Não é nada, não é nada, cada uma vale por um romance no sentido comum da palavra, ou seja, pega a vida do berço ao túmulo, descreve suas glórias e misérias e, ao mesmo tempo, detalha o painel humano em que viveu. Donde: os personagens são vários, a comparsaria é divertida, as tramas paralelas muitas vezes melhores do que a principal. E o que tenho lido não é mole: Disraeli, Proust, Caruso, Mahler poderia encher o resto da crônica mencionando apenas os nomes dos muitos biografados sobre os quais tenho lido.
Depois de um fim de semana em que devorei 850 páginas de uma biografia de James Joyce, pensei em certas manias que alguns deles cultivavam. Cito quatro, bem diferentes em origem, estilo e temperamento: o português Eça de Queirós, o francês Proust, o irlandês Joyce e o brasileiro Nelson Rodrigues. Evidentemente, eles deixaram uma obra literária mais do que respeitável, não foram ricos, atravessaram dificuldades de saúde e de bolso, eram gênios.
No entanto, como eram parecidos no pressionar amigos e colegas para se promover. Até aí, pouca novidade, muita gente precisa ocupar as fachadas para brilhar. O Evangelho diz que não se coloca o candeeiro dentro da arca, mas no teto, para que a luz brilhe e ilumine. A aproximação que faço entre eles vai além da necessidade de mídia: não poucas vezes, eles próprios escreviam notas, resenhas e até críticas inteiras sobre suas obras e arranjavam amigos que as assinassem e outros que as publicassem.
Chegavam a inventar adversários com os quais pudessem duelar ou serem defendidos por amigos. Faziam de tudo para não deixar a peteca da glória cair. Se isso aconteceu com alguns gênios de nosso tempo, o que não acontece por aí, na planície da mediocridade humana?
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