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RIO DE JANEIRO – "Sou feia, mas tô na moda" foi o título bem-humorado de uma reportagem da Ilustrada no mês passado que comentava a pujança da vida noturna paulistana. Parodiando o caderno cultural, "Bonitinha, mas ordinária" é o título que deveria ser proposto a uma reportagem que mostre a bagunça da segurança pública no Rio, em particular, e da administração estadual como um todo.

Paulistanos são pouco afeitos a demonstrações de amor explícito à sua cidade. A crueza das ruas, dos prédios cinzas, a poluição, os engarrafamentos, coisas assim deixam poucos espaços para a descoberta de pequenos encantamentos – um sanduíche no jardim da Pinacoteca ou a admiração das velhas árvores em torno das ruas que cortam o Pacaembu e das luminárias que preenchem a Liberdade.

Já cariocas glorificam, costumeira e acertadamente, a conjunção rara de mar e montanha que transforma a cidade em encantamento tão deslumbrante que as mazelas do dia-a-dia acabam esquecidas a lufadas de brisa vinda da praia.

"Otto Lara Resende ou Bonitinha, mas Ordinária" é a peça de Nelson Rodrigues em que a vilania se espraia ao tilintar do dinheiro. A frase de Otto Lara Resende – "O mineiro só é solidário no câncer" – serve como delineadora do acirramento da canalhice.

Chamar o Rio de cidade bonitinha, mas ordinária é uma boutade pouco precisa, como elas costumam ser. A cidade do Rio é mais que bonitinha. E os ordinários, os que se vendem à contravenção e ao tráfico, formam a vasta fauna de canalhas a fazer negócios escusos – só que dando expediente em repartições públicas.

São canalhas, imorais, mas nada rodriguianos. São o câncer a fazer do Rio merecedor de piedosa e nacional solidariedade.

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