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Rio de Janeiro – Ainda não entendi por que, mas reclamam da mania que os cariocas cultivam: a de citar Nelson Rodrigues para explicar ou complicar mais ainda as coisas que acontecem por aí. Pode haver exagero, mas oportunidade é o que não falta. Uma das histórias inventadas por ele é a do marido que descobriu a traição da mulher. Com a certeza de que ganhara os respectivos chifres, comprou um revólver e dois quilos de milho. Não estou certo se foram dois ou cinco quilos de milho. Revólver foi um só.

Chegou em casa e obrigou a mulher a ficar de quatro. Começou a jogar o milho, em gestos circulares, dizendo: "Come, galinha, come seu milho, galinha, come!".

Lembrei dessa história quando soube que a mulher de um amigo, ao chegar em casa, encontrou um enorme cartaz em sua cama com esta enigmática frase: "Papa uva tango alfa".

Ela esperou o marido chegar, mas o marido nunca mais chegou. Foi àquele lugar que, antigamente, se dizia "às vilas de Diogo". Sumiu, deixando como legado aquele cartaz e aquela misteriosa frase.

A mulher foi à polícia comunicar que o marido sumira. Investiga daqui, investiga dali, um detetive que já trabalhara numa companhia aérea lembrou-se que "papa" e "tango" eram palavras que serviam de código para as letras "p" e "t".

Para evitar confusões, os aeroviários usam letras em código. Assim sendo, o detetive descobriu que "papa uva tango alfa" significava o que o marido pensava da mulher. O alfa equivalia ao "a", e uva, embora fora do código aeronáutico, devia valer pelo "u". Decifrado o enigma, ele teve de se explicar com a mulher abandonada.

"Então, já sabe o recado que o meu marido deixou escrito para mim?" "Sei", respondeu o detetive. "O que foi?" "Exatamente isso: papa uva tango alfa."

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