Rio de Janeiro Albert Camus descobriu que o homem é um exilado do reino. Conserva a nostalgia de um paraíso perdido, que ele sabe impossível de recuperar. Sísifo e Prometeu, o destino do homem é ser devorado por seus problemas, mas sem direito ao desespero. Desespero que de nada lhe adiantará.
Pulando de Camus para a ONU, onde até Lula tem direito a discurso, parece que a humanidade pretende encarar o problema ambiental em nível de Estado, embora a nação mais industrializada do mundo se recuse a participar do mutirão ecológico. Na impossibilidade de nos salvar, a ONU deseja salvar o planeta para as novas gerações de humanos.
Fiel ao pessimismo que cultivo desde que descobri a necessidade de chorar para mamar, considero improvável uma solução que mantenha o ritmo tecnológico da civilização e, ao mesmo tempo, nos devolva o mesmo ar puro que Adão e Eva respiravam no Paraíso Terrestre. Ou uma coisa ou outra.
Retiremos os automóveis que poluem as cidades, os aviões que poluem os ares e os navios que poluem os mares. Enxuguemos os grandes lagos que movimentam as hidrelétricas, fazendo ressurgir as matas e a fauna destruídas, flores brotarão e animais extintos voltarão à vida.
Sem eletricidade, sem plásticos, sem fábricas despejando detritos industriais nos rios, sem fumantes e sem predadores de florestas, o planeta vencerá a ameaça do aquecimento global, as geleiras continuarão geladas, sem derreter, e os oceanos permanecerão no mesmo nível dos primeiros dias da Criação.
Não mais sofreremos a nostalgia do paraíso perdido. Mas sempre haverá um espírito de porco que terá saudade do tempo em que ia à padaria e trazia o pão dentro de uma sacola de plástico que leva 500 anos para se degradar.