Rio de Janeiro – Na homenagem a Oscar Niemeyer, que está completando 100 anos, em sessão solene na Academia Brasileira de Letras, foi lido um texto do próprio Oscar em que ele conta o espanto de Darcy Ribeiro, antropólogo e acadêmico, que organizou um debate sobre o índio brasileiro. Darcy convidou um deles, que era seu amigo, e ficou admirado do silêncio mantido pelo índio durante as duas horas do encontro. Interpelou o amigo: "Você aí, não fala nada?". O índio respondeu: "Estou com preguiça".

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Mário de Andrade, em "Macunaíma", faz o seu herói repetir diversas vezes durante a narrativa: "Ah! Que preguiça!". Bem verdade que o herói mete-se em muitas embrulhadas, mas sempre evocando o ócio, o não fazer nada. Não é à toa que os índios e os brasileiros, em geral, carregam a fama de preguiçosos. Em termos materiais, a fama é desmentida: o Brasil construiu uma capital em pouco mais de três anos. Mas, em seu perfil psicológico, o brasileiro cultiva a nostalgia da preguiça ou a própria preguiça.

Quando soube que Dorival Caymmi ia se retirar para uma praia distante porque precisava descansar, Jorge Amado reclamou: "Descansar de quê? Você já nasceu cansado!". É isso aí: o brasileiro, em geral, feitas as exceções de praxe, já nasce cansado. Gosto de um sambinha feito por Orestes Barbosa, um dos nossos maiores letristas ("Chão de Estrelas"), que fala sobre a preguiça nacional e a justifica com antecedentes genéticos: "Meu avô morreu na luta/ o meu pai, pobre coitado,/ fatigou-se na labuta,/ por isso nasci cansado".

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São muitas as mulheres que reclamam dos amantes brasileiros, afoitos e apressados na hora da conquista, mas relaxados na hora de encontrar o tal ponto G, lembrado há pouco pelo Lula. E o amor, como se sabe, é paciente humilde, mas laborioso.