Já foi tarde: a Prefeitura do Rio derrubou uma inacreditável passarela, ali colocada por outra administração, na confluência de Ipanema e Leblon, um monstrengo amarelado, como um doente terminal de icterícia.

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Restou um troço que chamam de obelisco, mas que, na verdade, é um pirulito esquálido, que prejudica a perspectiva urbana e não tem nenhum sentido a não ser o de atrapalhar o tráfego e poluir a paisagem. Parece feito de papelão e está com os dias contados. Também já vai tarde.

O Rio já tem seu obelisco de pedra nobre, no final da avenida Rio Branco, onde os gaúchos amarraram seus cavalos na Revolução de 30. Teve uma razão: comemorou o final das obras da própria avenida, marco da modernização da cidade que antes de Pereira Passos era uma aldeia que alguns chamavam de infecta.

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Há obeliscos históricos em Roma (na praça de São Pedro), em Paris (na praça da Concórdia), marcos que vieram de longe e de origem fidalga. Não é o caso do pirulito de Ipanema/Leblon.

Não faz muito, o Darcy Ribeiro mandou colocar na Lagoa uma estrela de ferro feita por conceituada artista plástica. Em vez de enfeitar, enfeou a Lagoa. Não se enfeita uma flor – e a Lagoa é uma imensa pétala de água que reflete as matas do Corcovado e das Paineiras.

A estrela parece que apodreceu, desgrudou-se de sua base e foi encalhar numa das margens. Um caminhão de lixo da prefeitura a retirou das águas e levou-a para algum depósito – não creio que esteja em algum museu.

O Rio tem suas mazelas como cidade e como população, muitas e terríveis. Mas, se há uma coisa de que ele não precisa, é de penduricalhos que o agridem na tentativa de embelezá-lo. Falta de planejamento urbano já o prejudica bastante. Dispensa o supérfluo e o horrendo.