Começou o horário político gratuito no rádio e na televisão – o tradicional desfile de caras e bocas, com algumas idéias no meio, na necessária função de esclarecer o eleitorado.

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O clichê obriga todo mundo a detestar o programa e, de cambulhada, os candidatos que nele se apresentam.

Mais uma vez, e seguindo o indesejável DNA que me formou, remo contra a maré. Gosto do programa e aprecio todos os cidadãos de ambos os sexos que dão o seu recado, falam de suas vidas e realizações, prometem o que é possível prometer e até um pouco mais, de acordo com a garra de cada um.

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O pouco tempo e a lengalenga do conteúdo revelam-se contraproducentes, irritando o espectador que potencialmente é também um eleitor. Mesmo assim, tivemos o caso do Enéas, que dispunha de alguns segundos para dar o seu recado e mal tinha tempo para declarar que o nome dele era Enéas. Com a barba nazarena, a calva e os óculos fundo de garrafa, conseguiu se eleger e eleger alguns companheiros de seu fantasmagórico partido.

Digo e repito que aprecio o desfile eleitoral, não para me aperfeiçoar civicamente, mas para me distrair. A programação das tevês, em geral, são também de lascar e, além do mais, repetitivas. Os chamados shows de realidade, tipo "Big Brother", são excessivamente produzidos para dar audiência. No caso dos candidatos, a finalidade é dar votos – o que é problemático.

Lembro um candidato a vereador aqui no Rio que chegou a ser cassado não do mandato que não obteve, mas do direito de continuar candidato. Ele prometeu que, eleito, providenciaria uma bomba atômica para acabar com a poluição e os engarrafamentos do tráfego, destruindo a cidade para nela criar outra. Respeitaria apenas o Pão de Açúcar e o Corcovado.