Rio de Janeiro Nunca é tarde para se aprender alguma coisa a respeito dos outros e de si mesmo. Sempre impliquei com o fato de existirem pobres e milionários, e muitas vezes me perguntei porque não era milionário. Li biografias dos grandes magnatas e entendi a razão da mediocridade de minha vida e de minha pecúnia. Rockefeller vendia perus na adolescência, terminou dono da Standart Oil Co. Onassis catava guimbas de cigarros em Buenos Aires e terminou casado com a viúva de Kennedy.
Se renunciei ao sonho da fortuna, pensei durante algum tempo que poderia ser um poeta. Afinal, dinheiro acaba ou vai parar em outras mãos, a poesia fica, eleva, honra e consola disse Machado de Assis.
Outro dia, na Academia, falaram que o grande poeta português Miguel Torga começou a vida tomando conta de porcos na Zona da Mata mineira. Morreu em glória, não à custa dos porcos mas dos poemas que deixou. Outro poeta cuidava de cabras, é dos maiores da humanidade: Virgilio deixou suas encantadoras bucólicas e um poema fundamental, a "A Eneida".
Entendi tarde mas entendi. Nunca vendi perus nem catei guimbas de cigarros nas ruas, nada de admirar que nunca tenha passado de um cidadão remediado que toma remédios para enfrentar as injúrias do tempo. Tampouco escrevi ou bolei um poema sequer, uma quadrinha para cantar nas danças de roda de uma infância que não cheguei a ter.
Eu não entendia por quê. Meninos também retardados como eu faziam poemas para as namoradas, umas pelas outras ficavam apaixonadas e retribuíam. Só agora fiquei sabendo que minha incapacidade de produzir versos tem uma explicação histórica. Nunca cuidei de porcos, como Torga, nem apascentei cabras como Virgílio. Se voltar outra vez à Terra, tomarei providências.
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