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Ouvi no seminário onde estudei uma espécie de piada sem graça, mas que não esqueci – de certa forma, ela se repetiria na vida real de diversas formas e modos.

A piada é meio boba: famoso orador sacro decorou um sermão único para louvar todos os santos programados pelo calendário religioso. Mudava apenas o nome e alguns detalhes da biografia de cada um deles e mandava brasa.

Na véspera, havia louvado Santo Antônio e o sermão começara com a informação principal: "O milagroso Santo Antônio nasceu em Lisboa em 1195..." E ia até o fim.

Acontece que no dia seguinte era a festa do Espírito Santo, uma das pessoas da Santíssima Trindade (Padre, Filho e Espírito Santo). Distraído, ele começou o sermão: "O Espírito Santo nasceu em Lisboa em 1195..."

Como disse, a piada não chega a ser engraçada, mas continua tendo uso frequente em depoimentos, discursos, artigos.

Nos simpósios, mesas redondas, celebrações disso ou daquilo, venho reparando que os oradores têm um esquema único para entrar no assunto, seja ele qual for. O detalhe do nascimento necessita de complementos para não deixar margem a qualquer dúvida: "O grande poeta que hoje festejamos nasceu em Itaporanga da Serra, na Rua dos Timbiras, número 124, fundos".

Dada a informação biográfica, o passo seguinte é levantar o perfil histórico do homenageado. Seja ele qual for, a regra é mostrar intimidade do orador com a sua vítima: "Conheci Chapeuzinho Vermelho na Baviera, quando lá fazia pesquisas sobre o folclore da Floresta Negra. Era uma menina bonitinha e ingênua, pediu-me um autógrafo em sua caderneta escolar – o que dei com muito prazer..."

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