Rio de Janeiro – Cito de memória: "Para os ricos, só existe um caminho para a conservação de sua fortuna: é se apoderar do Estado". A frase é de Lorenzo de Médici, exemplo de citação obrigatória do grande príncipe renascentista.

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Não era, exatamente, um político. Sua cabeça, e sobretudo o seu coração, estavam direcionados para as artes, daí seu nome ser sinônimo de mecenas. Mas as complicações da cidade-Estado, somadas às rivalidades das grandes famílias, obrigaram Lorenzo a aceitar o poder aos 20 anos. Talvez para explicar essa guinada em sua vida ele deixou a frase com que se inicia a crônica.

Para os ricos, é impossível evitar o poder, uma vez que é o poder que garante a própria riqueza e cria possibilidades de ampliá-la. É evidente que não é um pensamento bonito, mas é real, pragmático e elucidador: é assim até hoje.

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Na recente campanha sucessória, percebeu-se a vigilância do poder econômico sobre o poder político. Antigamente, as coisas eram mais veladas. Ricos e poderosos procuravam disfarçar – senão escamotear – as influências que exerciam sobre o processo eleitoral. Hoje, as coisas são mais visíveis, ocorrem a céu aberto.

A constatação leva à conclusão de que o Estado, no fundo, é um instrumento que sempre esteve e estará a serviço dos já poderosos. Para derrubar essa situação, de tempos em tempos, são feitas as revoluções e, vitoriosas, criam a nova classe de poderosos, que continuará por cima da carne-seca.

Por essas e por outras, o anarquismo pretende acabar com o Estado, mas até hoje não se criou o equivalente que funcione. O jeito é tudo permanecer como está.

Aos ricos, as batatas. Aos pobres, restará o consolo de servir ao Estado dos ricos. E receber o Bolsa-Família como prêmio por bom comportamento.