Rio de Janeiro – Aos 31 anos, Guimarães Rosa exercia funções diplomáticas em Hamburgo e acabara de ler "Brás Cubas". Nenhuma simpatia por Machado de Assis. No diário que escrevia sobre as impressões de suas leituras, há uma anotação esquisita:

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"M. de A. usa de construção primária.(...) Adquiri certeza, quase absoluta, de que ele, antes mesmo de compor os seus livros, ia anotando: pensamentos, frases etc., em livro ou em cadernos especiais, espécie de surrão ou alforje, de onde sacava, aos punhados, ou pinçava, um a um, os elementos de reserva que houvessem resistido ao tempo. (Processo aliás muito louvável. Tanto quanto o hábito de compulsar dicionários, visível em M. de A.)"

"Não pretendo ler mais Machado de Assis. (...) Acho-o antipático de estilo, cheio de atitudes para embasbacar o indígena; lança mão de artifícios baratos, querendo forçar a nota de originalidade; anda sempre no mesmo trote pernóstico, o que torna tediosa a sua leitura. (...) Quanto às idéias, nada mais do que uma desoladora dissecação do egoísmo, e, o que é pior, da mais desprezível forma de egoísmo: o egoísmo dos introvertidos inteligentes. Bem, basta, chega de Machado de Assis".

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Curiosamente, Rosa também tinha lá o seu alforje de citações, tomava nota de tudo o que ouvia de interessante nas Gerais. Bem verdade que mais tarde reformulou algumas das críticas a Machado, mas nunca morreu de amores por ele.

Temos a opinião do único romancista brasileiro que se alçou a um patamar próximo de Machado, em pólo contrário mas com o mesmo prestígio acadêmico, crítico e de público.

Pobre dos demais romancistas que navegaram ou navegam ainda nas mesmas águas. Se um gigante como Rosa ataca de forma tão radical outro gigante, que será dos demais que se encontram na planície, divididos nas duas vertentes básicas de nossa literatura de ficção.