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Carlos Heitor Cony

Saddam e a forca

Rio de Janeiro – Com exceção dos Estados Unidos e da Inglaterra, paladinos da civilização ocidental, parece que todos os outros países condenaram a execução de Saddam Hussein, no último dia do ano que passou.

Pessoalmente sou contrário à pena de morte, mas há de se respeitar as leis de um país que atualmente é mais ou menos soberano, como o Iraque. Ali, há pena de morte para os criminosos. Saddam Hussein foi um criminoso.

Não fiquei chocado com o enforcamento dele, mas pela maneira como foi executado, diante de testemunhas, carrascos e câmeras de televisão. A mídia internacional se cevou com a transcrição dos diálogos entre Saddam e seus algozes. Houve xingamento de parte a parte, expressões de ódio que mutilaram a solene austeridade de uma execução civilizada – embora na minha opinião nenhuma execução mereça a classificação de civilizada.

Por pior que tenha sido – e Saddam foi pior em vários sentidos –, ele merecia o respeito a que qualquer condenado tem direito. Seus inimigos dentro e fora do Iraque já o haviam linchado moralmente, além de o terem submetido a um julgamento polêmico.

Não podia ser absolvido, como na realidade não foi. A partir do momento em que a Justiça local o condenou à morte, ele tinha direito ao respeito que se deve àqueles que vão ser executados. Há mesmo um ritual, que inclui a assistência religiosa, a última refeição, o último trago de uma bebida, o último cigarro, a venda nos olhos ou o capuz, no caso dos enforcados.

No caso de Saddam, ele recusou o capuz, mas não se recusou a insultar aqueles que o insultavam no momento mesmo de sua morte. Um espetáculo bárbaro, um rito medieval e uma agressão violenta à sensibilidade de um mundo civilizado.

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