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Em 1996, publiquei neste mesmo espaço a crônica que hoje transcrevo em homenagem a uma data que nunca esqueço. Confusão de última hora, agravada pelo calor que consegue embrutecer os mais brutos, não comemorei na última quinta-feira, 3 de fevereiro, o dia de São Brás, epíscopo e mártir, tido e havido como protetor dos males da garganta. Não conheço do santo a biografia, daí não saber por que há séculos seu nome é invocado na hora das sufocações, dos catarros, das espinhas de peixe e ossos de galinha que ficam encravados naquilo que os prosadores quinhentistas chamavam de "guelras".

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Parece que os peixes e galinhas de hoje têm menos espinhas e ossos. O fato é que agora pouca gente se engasga na hora das refeições. Antigamente, nos lares e restaurantes, alguém se levantava da mesa com a mão na garganta, apoplético, olhos esbugalhados – recomendavam que se comesse farinha para fazer a espinha ou o osso descerem, tampasse o nariz prendendo a respiração, bebesse água e, sobretudo, invocasse São Brás. Casos mais desesperados iam parar no pronto-socorro.

Mas não bastava clamar pelo santo. Era preciso que alguém capacitado batesse nas costas do sufocado e desse uma palmada, de baixo para cima, ao ritmo cadenciado de ‘São Brás, São Brás!’.

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Havia especialistas nisso. Na minha rua, um espanhol era considerado infalível nessa salvadora arte. Chamava-se Arranca, convocavam-no para emergências dramáticas, ele dava uma porrada seca, letal, tal e tamanha que se o sufocado não vomitasse os pulmões estava salvo.

Já tive problemas com a garganta. O espanhol Arranca desapareceu dos meus horizontes, não podia me salvar. Agarrei-me a São Brás – e agora o esqueci. Ou melhor, quase ia esquecendo.