Rio de Janeiro Estudantes de jornalismo, em Curitiba, aproveitando a pausa de uma palestra para os vestibulandos do curso Decisivo, me perguntam se há lugar para a esperança. Com Domingos Pellegrini e Miguel Sanches Neto, falávamos sobre os livros que irão cair no vestibular. O tema era exclusivamente literário, mas acima de todos nós estava aquela "nuvem que os ares escurece" tal como disse Camões no começo do episódio do Adamastor.
Na realidade, por mais redundante que seja, não há como evitar a situação nacional. Não se trata de um arroubo moralista, muito menos de um prejuízo material que coloque a nação em véspera de uma quebradeira econômica e financeira.
Embora distante de uma tranqüilidade nesses setores, o país atravessa um período relativamente estável. Não é por aí que o desânimo, e até mesmo a revolta, nos abate o ânimo e nos coloca numa das fossas mais prolongadas de nossa história.
Deus poupou-me o sentimento da esperança, de maneira que não precisei pensar muito para responder aos jovens. E, como Deus nunca tarda e quase sempre falha, no dia seguinte, li a declaração de Lula, afirmando que não há prova que justifique a cassação de seu homem forte, seu ex-chefe do Gabinete Civil, José Dirceu.
O mesmo Lula acha que não há provas contra o Renan Calheiros e conclamou a nação a respeitar a decisão do Senado que absolveu o presidente daquela Casa, na base do "causa finita".
No caso de Dirceu, condenado, Lula discorda da decisão que o cassou. Declarava que não sabia de nada, mas "sabe" que ele é inocente. No caso de Renan, diz que não há o que discutir sobre a decisão da maioria do Senado. Por essas e por outras, não há espaço para a virtude que nos dá o dom de suportar o mundo.