Rio de Janeiro Na entrevista que Lula concedeu no próprio domingo em que foi reeleito, ele fez referência a erros e equívocos de seu primeiro mandato. Um jornalista quis saber que erros e equívocos eram esses e Lula citou os entraves administrativos que engavetam medidas salvadoras. Prometeu que isso não se repetiria, qualquer medida aprovada em sua mesa de trabalho, terá trinta dias improrrogáveis para produzir seus benéficos efeitos.
Comovente a cara-de-pau do presidente. Os erros e equívocos que o jornalista queria saber eram relativos aos escândalos que até agora não estão nem apurados nem punidos. E sobre os quais o presidente nada sabe nem sequer leu nos jornais. Na euforia da vitória, ele esqueceu que, até certo ponto, é um presidente "sub judice".
São tais e tantas as graves maracutaias de seu governo que a qualquer momento a oposição poderá iniciar um processo de impeachment. Evidente que não faltará apoio popular ao presidente, já expresso na votação que obteve no segundo turno. Mas a opinião pública é como aquela dona da ópera de Verdi: "è mobile". Bem verdade que ele teve habilidade para se dissociar do PT, abandonando na rua da amargura alguns de seus mais antigos e próximos companheiros. Mas o caldeirão político continuará fervendo, e de uma hora para outra um fato novo poderá estragar a sopa de entulho em que se transformou a política nacional.
Tenho para mim que Lula não deve temer a oposição oficial e explícita dos partidos adversários. Ele deve temer os churrasqueiros, os caseiros, os seguranças e motoristas. Deve temer, sobretudo, a turma ressentida do próprio PT que espera uma oportunidade para lavar a testada e chafurdar na vingança, que, como toda vingança, é melhor quando é servida fria.