Rio de Janeiro Basta ocorrer um crime na zona sul do Rio que reúna algum elemento midiático uma "socialite" ou turistas estrangeiros envolvidos, por exemplo para que seja aberta uma nova temporada de declarações estapafúrdias. Ontem, o chefe da Polícia Civil, Ricardo Hallack, saiu-se com esta: "No Rio, a periferia está na zona sul". Merecia ser demitido por falta de conhecimento da área que chefia: na periferia do Rio, o crime é muitíssimo pior.
Para saber disso, bastava ter se debruçado sobre o estudo "Geografia da Violência na Região Metropolitana do Rio de Janeiro 2000 a 2005", que Leonarda Musumeci, Gabriel Fonseca da Silva e Greice Maria da Conceição fizeram para a Universidade Cândido Mendes.
A menor taxa de homicídios da região metropolitana é registrada na zona sul, onde vive grande parte da população abastada da cidade: perto de 17 assassinatos para cada 100 mil habitantes. É verdade que corresponde a cinco vezes a taxa média de Londres (2,8 por 100 mil), mais que o dobro da registrada em Nova Iorque (7 por 100 mil), mas é menor do que a do município de São Paulo (25 por 100 mil) e do estado de São Paulo (18 por 100 mil).
Na Baixada Fluminense, a verdadeira periferia do Rio, a média de assassinatos é quatro vezes maior do que a da zona sul. Entre 2000 e 2005, a Baixada Fluminense e as zonas norte e oeste registraram 79% dos roubos de veículos do estado, 78% das mortes em confronto com a polícia, 64% dos homicídios dolosos, 60% dos roubos a passantes e 59% dos roubos em ônibus.
Se os números mostram que a situação da zona sul é grave na comparação com Londres e Nova Iorque, deixam claro também que o quadro na periferia é calamitoso. E o chefe da Polícia Civil deveria saber disso, mas ele muito provavelmente não anda por lá.