Rio de Janeiro – Havia um jornal no Rio cuja especialidade era cobrir assuntos policiais, numa época em que a violência não havia atingido os níveis de hoje. Era mais barato do que os concorrentes e vendia bem. O sujeito roubava uma galinha num quintal de Marechal Hermes e tinha foto na primeira página, era apontado à execração pública. Mas o que predominava eram os crimes de sangue, sobretudo os adultérios e pecados afins.

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Os órgãos de imprensa mais sérios, e os leitores igualmente sérios, diziam que se espremessem o jornal com força, pingaria sangue de suas páginas. Lembro a manchete que fez sucesso: "O sangue correu na noite de núpcias". Não se tratava de um duplo sentido: no casamento de um bancário, em Olaria, o pau comeu a noite toda e houve feridos em diversas gradações, inclusive a noiva que foi internada e precisou de uma transfusão de sangue.

Os noticiários da tevê, com o aumento da violência, estão pingando sangue. Uns pelos outros, pelo menos um terço do tempo é dedicado a assaltos, conflitos da polícia com traficantes e vice-versa. Ninguém mais rouba galinhas dos quintais, não há quintais e as galinhas já chegam preparadas nos supermercados, as mais sofisticadas com um termômetro na barriga para avisar que já estão assadas.

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Semana passada, num dos telejornais com melhor ibope, contei cinco notícias seguidas de casos policiais, nenhum deles importante: crimes mixurucas, rixas de vizinhos, brigas de bar, um sujeito que não pagou o que devia e levou uma facada, foi socorrido no Souza Aguiar.

Curiosamente, os adultérios fornecem pouca matéria-prima, ainda existem, mas de duas uma: ou são de gente conhecida e o noticiário tende a esconder a surra que a mulher levou; ou são da plebe ignara e ocupam pouco espaço.