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Rio de Janeiro – Quando publiquei o meu terceiro romance, em 1960, alguns críticos consideraram o título ("Tijolo de Segurança") enigmático e de mau gosto.

Em certa parte do texto, há uma explicação que considero atual com o recente desastre com o avião da Gol, em que morreram 155 pessoas. Para andar num espaço quase infinito, cada avião ocupa o centro imaginário de um quadrado que garante a sua rota.

Esse quadrado é o tijolo de segurança: tantos metros acima e abaixo e tantos metros à direita e à esquerda formam esse retângulo que se movimenta com cada aeronave.

Apliquei essa metáfora aeronáutica à trajetória de cada um de nós no espaço de cada trajetória pessoal. Precisamos de uma garantia mínima para não nos chocarmos uns com os outros.

O desastre em que dois aviões se esbarraram num espaço ilimitado mostra que, apesar da tecnologia, os equipamentos cada vez mais sofisticados não impedem os esbarrões, que podem resultar fatais.

Também na vida de cada um de nós, mesmo desaparelhados de mecanismos tecnológicos, insensivelmente tentamos manter esse tijolo móvel que nos garante o mínimo de segurança física e moral. Nós nos chocamos muito por aí uns com os outros e até conosco mesmo.

Confiamos nas rotas traçadas pelos responsáveis, confiamos na eficiência do equipamento, mas, de repente, tudo pode acabar numa tragédia.

De igual forma, todo o nosso equipamento vital é precário diante daquilo que deu título a uma ópera de Verdi: a força do destino.

Em edição recente do mesmo romance, pensei em mexer no título, tornando-o menos cabalístico.

Mas o mantive e o manterei para sempre. É um símbolo de nossa fragilidade, de nossa disponibilidade para o bem e para o mal.

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