Não faz muito, exigia-se dos homens públicos e particulares um mínimo de honestidade. Noel Rosa perguntava num samba famoso: ‘Onde está a honestidade?’. Parece que até hoje ninguém respondeu. Preferiram mudar a pergunta, substituindo a honestidade por ética. A rigor, não se sabe exatamente o que seja a ética, uma extensão da moral ou um conceito subjetivo que varia de situação para situação, de profissão para profissão (a deontologia) ou mesmo de fuso horário para fuso horário.

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Diante de tantas dificuldades, elegeu-se um novo conceito de honestidade, de ética e de moralidade: a transparência. Vejo na tevê o senador Heráclito Fortes, que fisicamente nada tem de transparente, garantir que o Senado será transparente e –por extensão – que a vida pública nacional também o será. Alvíssaras, meu capitão, que avistei terras de Espanha, areias de Portugal!

Mesmo assim, continuo preocupado. Com a opacidade reinante, são feitas coisas extraordinárias. É fácil imaginar o que poderá ser feito quando todos serão transparentes como os fantasmas, podendo atravessar paredes. Quanto mais transparentes, mais invisíveis ficarão.

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Em criança, participei de reunião em que foi lançada a ideia de sermos transparentes. Quais seriam as nossas prioridades se ficássemos sem matéria visível, podendo ir a qualquer canto, fazer qualquer coisas sem sermos descobertos?

A maioria veio com planos hediondos, saber o que os pais faziam quando ficavam trancados no quarto, outros queriam ver as meninas mais em evidência tomando banho. Um deles queria invadir a confeitaria Indiana, celebrada por suas coxinhas de galinha.

Já naquele tempo, meu grande anseio era aproveitar a transparência para não existir, ficar fazendo nada, mas transparentemente.