Rio de Janeiro – Pergunto: estará passando a onda que andou pesada para os lados da pornografia, entendida em suas manifestações mais óbvias e agressivas: as revistas ditas eróticas e os filmes que foram classificados de pornochanchadas? Li algumas reportagens a respeito do assunto.

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Um curador de menores, aqui no Rio, garantiu que as revistas e filmes eróticos tinham nascido de uma resolução tomada em Havana, em 1968, e faziam parte de uma estratégia para os comunistas chegarem ao poder. Essa besteira teve equivalente à esquerda: ouvi de um comunista histórico a afirmação de que a pornografia e a droga eram agenciadas pela CIA com a finalidade de enfraquecer o ímpeto libertário dos povos do Terceiro Mundo.

Talvez todos tenham razão. É nisso que venho pensando cada vez mais: o mal do mundo não é a falta de razão, mas o excesso dela. Todos têm razão, ou, pelo menos, todos têm a sua razão.

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Lembro o que vi em Portugal, logo depois da Revolução dos Cravos. A austeridade de Salazar, o Casto, foi substituída por uma inundação de revistas pornográficas vindas de toda a parte, sobretudo os encalhes suecos e dinamarqueses. Até que a produção local botou para quebrar e a grossura chegou a nível insuportável. Ali no Chiado foi colocado um pôster deste tamanho, com um imenso pênis (perdão pela feia palavra) ejaculando. Era anúncio de não sei o quê. No chão, crianças, senhoras, freiras, soldados, todos pisavam em cartazes obscenos: isso fazia parte da liberdade, na avenida da própria. Dois anos depois, voltei a Lisboa e já não havia mais nada.

Nas bancas, nas livrarias, os interessados podiam comprar o que bem desejassem, mas a poluição brutal havia passado.

Não por falta de interesse dos produtores, mas pela relativa apatia dos consumidores.