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Não foi por e-mail, foi por carta mesmo, daquelas que no envelope já trazem uma bem-intencionada mensagem natalina. Era uma carta anônima, mal datilografada, de um cidadão que se declarou comissário de polícia. Ao contrário das cartas anônimas, não continha infâmias nem ameaças, revelava apenas um caso que o missivista achava que deveria ser divulgado.

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O problema era o seguinte: numa batida policial, ele prendera um menor, J.G.M., de 14 anos, que vendia drogas. Não era um viciado, nunca usara drogas, entrara no negócio porque era mais rendoso vender maconha ou coca do que drops ou mariolas. Tinha abastecimento seguro, o pessoal do tráfico gostava dele, era honesto e esforçado.

O policial perguntou como o guri entrara naquele tipo de comércio. Fácil: o pai fora assassinado pela polícia num tiroteio contra traficantes no morro da Formiga. Era pedreiro e biscateiro, não tinha nenhuma relação com a droga, não se drogava nem traficava, apenas ia passando e levou um tiro, não importava se de arma da lei ou se de arma fora da lei.

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Com a mãe sofrendo de erisipela, mais dois irmãos menores, ele teve de assumir a pasta da fazenda daquela modesta família. Pensou em ser engraxate, em vender os citados drops, em outros misteres que julgava apropriado para a sua condição de menor quase analfabeto.

Encontrou um rapaz, pouco mais velho do que ele, de 19 anos, que o iniciou no tráfico. A diferença é que o professor era, ele próprio, um viciado, que não durou muito: morreu numa briga entre traficantes.

Decidido a não experimentar a droga, ele achava que estava numa boa, ganhava alguma coisa e não pagava o preço do vício. Ficou preso numa delegacia de menores. Tornou-se viciado.