Rio de Janeiro – Em situações limite, vale qualquer coisa. Rezar é uma delas. Pedir um cavalo pode ser mais prático, mas se deve dar alguma coisa em troca. No caso do rei de Shakespeare, ele ofereceu o reino por um cavalo – negócio atraente para quem tivesse um cavalo e desejasse ganhar um reino.

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No que me interessa, não tenho reino nem preciso de um cavalo para nada. Aliás, não tenho qualquer coisa que valha a pena trocar. Sim, devo ter uma alma, mas já a troquei quando, aos oito anos, tendo cometido uma falta qualquer e sendo punido pelo pai, fiquei sem um pedaço da torta de banana que estava sendo servida no jantar. Era a minha sobremesa preferida. Fui para o quarto chateado, sentindo-me só e desgraçado. Havia feito a primeira comunhão naqueles dias e ficara sabendo que o diabo gostava de comprar almas para o seu reino de chamas.

Achava o negócio meio nebuloso. Mas não custava tentar. Com a solenidade possível, invoquei o Pai das Trevas, mas dispensando-o de me aparecer ali no quarto, onde estava sozinho e miserável. A troca seria consumada sem a necessidade de sua presença. Eu lhe daria a minha alma – que não valia muita coisa –, ele me daria o que me fora negado. O doce seria de pronta entrega, o pagamento seria depois, bem depois, teria muito tempo para me arrepender, fazer penitência e desfazer o negócio.

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Se eu confiava no Diabo, o Diabo não confiou em mim. Deve ter adivinhado a intenção de não cumprir o trato. Fiquei sem a torta e com a alma desvalorizada, nem o Diabo queria saber dela.

Aprendi a lição. Nada neste mundo e no outro é grátis. Tudo tem um preço. Venho acompanhando com tédio as negociações do governo para prorrogar a CPMF no Congresso. Não estão em jogo uma alma e um pedaço de torta.