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RIO DE JANEIRO – É troncudo, fala pouco e parece pensar muito. Chama-se Marcos, é motorista de um amigo, volta e meia me dá uma carona.

Dele tenho poucas certezas: é fiel ao patrão, fiel até mesmo aos amigos do patrão. Sei pouco sobre ele, além dessa fidelidade e das poucas palavras que se digna pronunciar, como se delas não precisasse.

Tem pavor de balas perdidas, de seqüestros, de qualquer tipo de violência urbana, social ou metafísica, pois tem medo de fantasmas e acredita em espíritos.

Prefere esganar a mãe a ser obrigado a passar pela Linha Amarela – onde acredita que todos os bandidos da cidade e do mundo se concentram. Lê jornais alternativos da Baixada Fluminense e sabe de coisas que os outros jornais nem ousam suspeitar. Casos de adultério que terminam em facadas, roubo de crianças para revenda na Alemanha, bandos inteiros massacrados por policiais do Esquadrão da Morte – fala pouco, mas sabe muito e eventualmente avisa que um dia vai embora, não sabe ainda para onde.

Leu, também não sei onde, que os presidiários pretendem seqüestrar o Papa quando Sua Santidade vier ao Brasil, ano que vem. Farão exigências espúrias e, se não forem atendidos, abrirão uma vaga no almanaque pontifício da Santa Sé.

Pedi detalhes e ele deu o que sabia e imaginava. Um papa preso num desses presídios de segurança máxima. A batina branca, imaculada, suja de sangue – ele seria torturado para convencer o governo de que os presos estavam dispostos a tudo. As autoridades nacionais ficariam borradas de medo de criar um caso de tal magnitude. Fariam acordos abomináveis com os bandidos.

Tentei negar tudo o que ele falava. Ouviu meus argumentos com seriedade, mas encerrou o diálogo com uma advertência que transmito à Sua Santidade: "Eu, se fosse o papa, não colocaria os pés aqui".

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