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Refletindo a comoção pública, e de certo modo a incentivando, a televisão, o rádio e a mídia em geral deram minuciosa cobertura do seqüestro e morte da menina Eloá – vítima de um crime passional que por coincidência provocaria outros casos iguais.

Não pretendo chover no molhado lamentando o fim de uma vida de 15 anos. Do abominável episódio policial, pincei um detalhe que no meu entender merece meditação. A família da menina autorizou a doação de seus órgãos. Milhares de pessoas estão na fila de espera, e a oferta é rara, incerta, cercada ainda de preconceitos.

Sacrificada brutalmente em plena adolescência, não se pode dizer que ela continuará vivendo porque seu coração, rim, pâncreas, pulmão e córnea serão transplantados para outros organismos. Seria uma licença poética e médica. Mas a doação de órgãos sadios é uma prática ao mesmo tempo solidária e científica, que em alguns casos aumenta a expectativa de vida, e na maioria dos casos, melhora substancialmente a sua qualidade.

No caso de Eloá, foi a família que autorizou a doação. São raros ainda os casos em que as vítimas de mortes violentas ou não deixam instruções a respeito. Afinal, todos nós somos vítimas potenciais da fatalidade, ou de doenças que poupam determinados órgãos.

Evidente que ninguém deseja uma humanidade de frankensteins, nem o transplante de órgãos chegaria ao estágio macabro da ficção. Trata-se de uma etapa da ciência e da técnica cujo desenvolvimento pode tornar uma vida mais útil mesmo depois que ela acaba.

Afinal, o único problema que o homem nunca poderá resolver é o de sua finitude. Parodiando o poeta francês Henri Régnier, já parodiado por Vinicius no famoso soneto, que a vida seja infinita enquanto dure.

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