Após décadas em contato com adolescentes no meu trabalho de professor, tive nesta semana ocasião de reencontrar a minha própria adolescência. Meus colegas de ginásio, reunidos pela internet, fizeram uma reunião no mesmo bar da adolescência, na minha cidade natal.
Vi ali, na prática, o que cada um fez, para onde cada um foi, desenvolvendo os potenciais que já estavam presentes naquele estranho interlúdio artificial entre a infância, quando todos são iguais, e a idade adulta, quando os interesses determinam os amigos, e não o contrário.
Décadas atrás, éramos um bando de jovens, prontos para a vida, com talentos e limitações que estávamos começando a descobrir, forçados pelas circunstâncias a passar algumas horas juntos por dia. Nossa atenção estaria, em tese, voltada para os professores e eu hoje sou um deles, mudei de time! , mas exatamente por isto era atraída pelo colega. Daí as horas de convívio extraclasse com pessoas tão diferentes de nós quanto qualquer adulto aleatório é diferente de outro, mas que compartilhavam a intensidade de paixões que a maré montante de hormônios acarreta.
Essa combinação de aglomeração aleatória com um impulso gregário hormonal leva ao mesmo tempo a tragédias emocionais e à descoberta de afinidades pessoais que nunca seriam descobertas em qualquer ambiente mais natural. A amizade que se conquista na adolescência é uma espécie rara, que perdura justamente por ser forjada apesar das circunstâncias. Os interesses comuns dos adolescentes música, roupas, o que for vêm da amizade e são passageiros, o ambiente de crise emocional constante fica para trás, mas os temperamentos, psiques e manias daqueles a que nos ligamos naqueles tempos permanecem.
E décadas mais tarde, redescobrimos a forma perfeita daqueles potenciais: o rapaz que varava as tardes tocando seu contrabaixo teve de sair mais cedo, pois tinha um show a dar; pelo menos deu tempo de rachar um charuto com o que criava fantasias mirabolantes, que chegou cedo, vindo de seu escritório de arquitetura. O que em tudo via magia registrou o encontro com sua máquina de fotógrafo profissional, tendo levado a pseudomagia teórica e superficial da adolescência à perfeição na mágica visual. Eu vi, ali, os potenciais realizados.
São pessoas diferentes, tão diferentes que só aquele ambiente confinado e fermentado de emoções que é o convívio adolescente poderia ter reunido. Mas a união perdura, mesmo depois que a adolescência passa.
Afinal, o bom da adolescência é que um dia ela acaba.
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