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Na antiga Prússia havia dois tipos de escola: a Alta Escola, para formar oficiais e comandantes, e a Baixa Escola, fabricando soldados e operários. Aqui no Brasil, tanto no ensino público quanto no particular, só temos a Baixa Escola. Enfiamos nela as pobres crianças desde a mais tenra idade, cobrindo-as com roupas uniformemente horrendas e isolando-as umas das outras pelo critério puramente arbitrário da idade.

Meu medo é que a educação domiciliar seja definitivamente proibida

Cercadas de outras crianças tornadas iguais, coisa inaudita na natureza, elas são proibidas de conversar com o prisioneiro ao lado por quatro horas e meia, de segunda a sexta. No recreio, quando finalmente podem abrir a boca, é claro que vão procurar aqueles com quem não puderam falar em sala, e assim as ensinamos a detestar o diferente e buscar sempre a conformidade. Quando, na adolescência, elas se recusam a falar com quem não ouve a mesma música ou não veste roupas da mesma loja, estão apenas demonstrando como aprenderam bem.

A cada quarenta minutos soa uma campainha e muda o assunto, do fascinante ao entediante, do medonho ao meramente agradável. E assim as ensinamos que a atenção delas deve ser dirigida por seus superiores e que o interesse delas é mera curiosidade. Para isso contribui a tresloucada progressão dos objetos de estudo, apresentados como que ao acaso e nunca mais revistos depois da prova bimestral. A física da escola é geralmente tão longe da realidade que não parece ter algo a ver com a maçã que caiu na cabeça dura do Newton. O sonho dos estudantes é que houvesse sido uma jaca, para que todos ainda voássemos!

Já a Alta Escola, cujos últimos frutos deram bastante trabalho às tropas aliadas na Segunda Guerra, procurava incentivar a criatividade, o uso hábil da teoria na prática da vida real, a capacidade, em suma, de tornar realmente seu o que foi aprendido. Coisa raramente vista por estas paragens.

Está agora surgindo, todavia, uma espécie de Alta Escola genuinamente tupiniquim. São os heroicos pais e mães que decidiram tirar os filhos da (Baixa) escola e educá-los em casa. São poucos, por enquanto, ao contrário do que ocorre em outros países. Até mesmo a “legalidade” de fazê-lo é posta em questão por quem acredita que é ao Estado e não aos pais que compete educar, se não gerar. Não importa que sejam crianças espertíssimas, que leem e escrevem melhor que muitas professorinhas e declinam termos latinos como quem nomeia os afluentes da margem esquerda do Amazonas: ficou tão arraigado o hábito de terceirizar o ensino que os conselhos tutelares precisam ser convencidos caso a caso de que os pais não as abandonaram.

Meu medo é que a educação domiciliar seja definitivamente proibida por proporcionar àquelas crianças uma vantagem indevida.

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